quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A PRÁTICA PEDAGÓGICA PELA ÓTICA DA INCLUSÃO – TRABALHANDO COM A DEFICIÊNCIA VISUAL


 CZERMAINSKI, Sandra Marisa
BUENO, Leticia de Aguiar
KONZGEN, Simone Pereira
 
 
            Considera-se deficiência visual toda e qualquer dificuldade que afete a aprendizagem. Existem diferentes níveis de déficit visual como a cegueira, que é a ausência total de visão e a subnormal. É importante esclarecer que a visão subnormal não pode ser confundida com cegueira, pois o portador da visão subnormal tem uma visão útil, que o lhe permite fazer leituras de textos ampliados ou com auxílios ópticos que ampliam consideravelmente a visão.
            As causas mais comuns da visão subnormal são, entre outras, a diabetes, a toxoplasmose e as causas congênitas. Já a cegueira, pode ser congênita ou adquirida. Esta perda pode ter causa no nascimento, ao longo da vida ou, ainda, no útero materno.
            Pedagogicamente pode-se considerar cego todo o aluno que mesmo com visão subnormal necessita de instrução em Braille e como portador de visão subnormal aquele que lê textos e imagens ampliadas ou com auxílio de recursos ópticos.
Nesse sentido, é sumamente importante a preparação dos profissionais da educação, em especial professores, para trabalharem a inclusão de crianças com deficiência visual em suas práticas pedagógicas.


A prática pedagógica pela ótica da inclusão –
Trabalhando com a deficiência visual

            Algumas considerações sobre o trabalho com portadores de deficiência visual se fazem necessário, como também, o que entendemos por inclusão e como constatamos sua efetiva prática nas escolas.
            Dessa forma, acreditamos que a inclusão vai muito além de mero discurso, ela implica uma capacidade de entender e reconhecer o outro em sua singularidade, respeitando, convivendo e compartilhando experiências e saberes com pessoas que são diferentes de nós. Nessa perspectiva, uma escola será inclusiva quando, ao inserir um aluno com alguma necessidade educativa especial na sala aula, perceba que se faz necessário, antes de tudo, um preparo não apenas do professor que irá trabalhar com determinado grupo de crianças, mas com os demais profissionais da instituição, bem como, dos alunos que irão conviver e precisam aprender a respeitar suas limitações.
            Tomando por base o conceito de inclusão citado acima, acreditamos que o professor deve perceber seus educandos como pessoas que vivem que pensam e aprendem de maneira diferenciada e que, portanto, incluir um aluno com deficiência visual em sala de aula não é, e nem pode ser entendido como sinônimo de problema, uma vez que a adaptação necessária de forma alguma pode levá-lo sentir-se como um sujeito a parte dentro da sala de aula. Nesse sentido, acreditamos que o professor não deve rotular seu aluno portador ou não de alguma deficiência, como possuidor de maior ou menor capacidade de aprendizagem.
          O que diferencia a forma de aprendizagem de um aluno ou de outro é a maneira como o professor aborda suas dificuldades e suas potencialidades. No caso do aluno com deficiência visual, há a necessidade de se explorar sentidos diferentes da visão para que compense a falta dela, através de um trabalhado singular e diversificado com esse aluno de forma sincronizada, fomentando sua participação no trabalho que vem sendo realizado com o grande grupo. Importante ressaltar que o professor, em momento algum, pode subestimar a capacidade do aluno com deficiência visual, mas sim instigá-lo na busca constante de uma aprendizagem significativa.
            Silveira e Fischer (2009) relatam que

Em nosso cotidiano escolar, nos deparamos, muitas vezes, com situações em que professores subestimam as capacidades dos educandos em determinadas atividades, seja devido a sua faixa etária ou a alguma necessidade especial. Em conseqüência disto, algumas capacidades passam despercebidas, assim como a participação dos educandos (...) (p. 12 e 13)

                        O que leva a subestimação das diferentes capacidades dos alunos é que, ao deparar -se com algum aluno com deficiência, o professor percebe apenas suas dificuldades quando deveria promover e exaltar as múltiplas habilidades dos mesmos. Essa prática atende as diferenças dos alunos, mas ao mesmo tempo diferencia o ensino, o que gera a exclusão.          
            Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, direcionados ao ensino de alunos com NEE, encontramos uma passagem que dá suporte a nossa idéia exaltando a importância de uma adequação curricular que seja um

   (...) elemento dinâmico da educação para todos e a sua viabilização para os alunos com necessidades educacionais especiais: não se fixar no que de especial possa ter a educação dos alunos, mas flexibilizar a prática educacional para atender a todos e propiciar seu progresso em função de suas possibilidades e diferenças individuais. (p. 32)

           Nesse sentido, o currículo escolar deve dar-se de forma flexível para receber e adaptar seus espaços e seus componentes aos alunos com necessidades especiais. Adaptações essas que dizem respeito à organização dos conteúdos, dos espaços, da temporalidade, da avaliação, entre outros.
             Na prática pedagógica, alguns materiais se tornam se não importantes, essenciais no trabalho com crianças com deficiência visual. Entre eles podemos citar materiais desportivos como a bola de guizo, que oportuniza a criança a realizar atividades  a partir do barulho que esta emite assim como, materiais de comunicação no sistema Braille com qual a criança cega é alfabetizada, cartazes informativos ampliados e coloridos e outros materiais concretos e/ou auditivos que venham a facilitar o processo de ensino aprendizagem deste aluno portador de necessidade educativa especial.
           Segundo Borges, Paixão e Borges (2010)

Os maiores problemas, entretanto, surgem logo após o término do processo de alfabetização.  Seguindo-se uma tendência mundial de integração, essa criança é direcionada para uma escola convencional, onde raríssimos professores sabem Braille.  A família do educando não sabe Braille, na maioria das vezes, e assim, o que uma criança cega alfabetizada escreve sua própria mãe e irmãos não sabem (e nem se interessam por) ler!  Esse fenômeno se propagará durante toda a vida: o que um cego escreve só outro cego consegue ler. (p. 32)

           Essa é uma realidade que ainda reflete nas escolas que buscam um trabalho inclusivo. Na maioria das vezes, o professor não tem um preparo para trabalhar com a criança cega, como já havíamos mencionado, esse despreparo é resultado de um currículo que não foi reorganizado de forma inclusiva respeitando à diversidade, os tempos e espaços dessas crianças.
           Silveira e Fischer (2009) explicam que:

Compreendemos a criança cega como ser capaz de incluir-se e de ser incluso, desde que o ambiente escolar seja apresentado como acolhedor, como ambiente não só de aprendizagem, como também de interações sociais e amizades, bem como entendido de forma heterogênea, no qual as capacidades são valorizadas e o tempo de cada um é respeitado. (p. 17)

            Outros materiais, também podem e devem ser explorados no trabalho pedagógico, como elementos com ilustrações táteis, adaptação de materiais escritos de uso comum: tamanho das letras, relevo, softwares educativos em tipo ampliado, textura modificada, sorobã, textos falados, buscando sempre instigar os outros sentidos da criança como a audição e o tato.  A organização da sala também é uma estratégia que deve ser adotada pelo professor, oferecendo espaço para que o aluno possa se locomover sem necessitar da ajuda de outros o que, contribuirá muito na sua formação de cidadão autônomo no exercício pleno da cidadania.


Conclusão

Considerando que o aluno deficiente visual total ou/e subnormal é um sujeito de direito, sua inserção na escola regular é uma ação política, social e educativa estabelecida e regulamentada pelas leis vigentes de educação. Neste contexto, acreditamos que a inclusão destes alunos nas escolas regulares deve ser uma ação coletiva envolvendo gestores, professores, funcionários, alunos e pais de alunos de forma a proporcionar uma aprendizagem significativa, contribuindo no desenvolvimento cognitivo, psíquico e afetivo destes sujeitos.
 A formação especializada de professores e funcionários, a adequação dos espaços físicos da escola, a reformulação curricular e do projeto político pedagógico da escola são instrumentos importantes para a inclusão destes alunos. O planejamento da práxis docente, a rotina e o cotidiano da sala de aula também devem ser repensados e adequados às necessidades destes alunos tais como: material pedagógico em Braille; material esportivo apropriado que permita ao aluno deficiente identificá-lo através do tato e da audição; definição dos conteúdos curriculares e do processo avaliativo; a disposição dos moveis da sala de aula de forma que ofereça espaço para que o aluno deficiente visual possa transitar livremente e outros procedimentos que venham a viabilizar a inclusão destes no espaço escolar.
            O papel da família, das instituições de ensino e principalmente da sociedade é o de desconstruir conceitos, o de saber lidar com a diferença, e o de pensar que não precisamos incluir ninguém, pois as pessoas com necessidades especiais não são seres à parte que devem ser incluídas no mundo dos ditos "normais", são pessoas como quaisquer outras que fazem parte do nosso meio e que têm direitos e deveres com todos nós.


Referências


BORGES, José Antonio. BORGES, Sonia. PAIXÃO, Berta Regina. Projeto DEDINHO Alfabetização de crianças cegas com ajuda do computador.2010. Texto disponível no siteintervox.nce.ufrj.br/m/textos/dedinho.doc, último acesso em 24 de novembro de 2010.

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : Adaptações Curriculares / Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial. – Brasília : MEC /SEF/SEESP, 1998. Disponível no site portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/eduinf_esp_ref.pdf, último acesso em 24 de novembro de 2010.


FISCHER, Julianne. SILVEIRA, Tatiana dos Santos.“ELA FICA ALI NA SALA DE AULA, OS ALUNOS FAZEM, ELA GANHA FOLHA PRA DESENHAR”: INCLUSÃO ESCOLAR DE EDUCANDOS CEGOS E ARTES VISUAIS. 2009. Disponível no site http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/trabalho_gt_15.html, último acesso em 24 de novembro de 2010.

EDUCAÇÃO PARA TODOS É A GARANTIA DE QUALIDADE PARA TODOS?



Partindo do pressuposto que o princípio fundamental da escola inclusiva é de que todas as crianças devem aprender juntas, independente das diferenças e dificuldades é essencial que se deva pensar na forma como essa inclusão deve se dar para garantir uma educação de qualidade e verdadeiramente inclusiva. O que vem sendo percebido é que se pensa e busca uma educação para todos, mas não há políticas públicas para educação que garantam espaços físicos adequados, a capacitação de profissionais para trabalhar com a inclusão. Nesse sentido, em muitas instituições a tentativa de garantir uma educação inclusiva acaba se transformando em uma prática exclusiva.
Por outro lado a “garantia de educação para todos” vem sendo relacionada à redução de desigualdades sociais, entretanto acredito que a garantia de ingresso no espaço escolar por si só não é fator relevante na afirmação de uma sociedade menos desigual, assim como aumentar o número de anos letivos não garante uma educação de qualidade.
O que deve se pensar é que uma educação de qualidade implica profissionais valorizados e capacitados, espaços físicos adequados, um currículo que respeite as diversidades de cada comunidade e cada contexto dentro dela, que valorize a heterogeneidade e as capacidades de cada aluno. Enquanto a educação for percebida em uma lógica quantitativa onde o que importam são os números (que na maioria das vezes não representam a verdadeira aprendizagem) e não o valor do sujeito como cidadão competente e capaz, nos depararemos com leis controversas e com aprendizagens insignificantes e excludentes.

FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA

BUENO, Leticia da Aguiar
KONZGEN, Simone Pereira


            Sabemos que o papel da escola é muito mais complexo do que simplesmente repassar informações contidas nos conteúdos da grade curricular a serem vencidos ao longo do ano letivo. Superior a essa função (de mediar conhecimento e não simplesmente repassar) a escola deve primar pela emancipação de sujeitos críticos, participativos e ativos no cotidiano escolar.
            Primando pelos princípios acima citados a educação deve contemplar acima de tudo valores que visam a formação desses sujeitos de forma a perceberem-se como cidadãos de direitos e deveres, modificadores e modificados pela realidade à qual estão inseridos. Então, a escola assume um papel fundamental no desenvolvimento pleno dos sujeitos nela inseridos, qual seja educar para a cidadania.
            Assim, ao educar para a cidadania, a escola mesmo que indiretamente (ou conscientemente) prepara também para a conscientização dos direitos humanos. E esta não é uma tarefa fácil ou que se apresente como uma fórmula a ser seguida, mas sim uma conquista diária que envolve todos os sujeitos que fazem parte da realidade educativa já que, como nos mostram Tauchen e Gorczevski. Para eles,

Educar para a cidadania é despertar no indivíduo a consciência de seus direitos na sua comunidade política (...). Educar para os Direitos Humanos é ensinar a respeitar os direitos dos demais, é educar para a paz, para a tolerância, para o amor, é ensinar a doar-se. (2007, p.3)

            Concordando com a ideia dos autores, entendemos que educar para os direitos humanos é primar pelo respeito mútuo, e assim, entre muitos fatores, pela educação igualitária em oportunidades, direitos, deveres e ética. É necessário que mais do que os conteúdos os educandos tenham discernimento em suas ações e atitudes, percebendo e agindo conforme o que é melhor para si e para o próximo.
É correto afirmar que todos têm direito à educação, mas antes dela, temos o direito de ser respeitados, cada indivíduo em suas especificidades e isso deve ser ensinado em todos os seguimentos da sociedade inclusive na escola e, ao nosso ver, é através da educação para os Direitos Humanos que se inicia a educação para a Cidadania. E é este o maior desafio no contexto escolar.
Emerge então, a necessidade de fazer com que os educandos (re) construam os valores perdidos ou considerados ultrapassados, onde a humildade e coleguismo tomem o lugar do egocentrismo e competitividade que assolam os ambientes escolares muitas vezes estimulados pela própria escola quando esta prima por uma educação quantitativa e pela qualidade do processo de ensino-aprendizagem.
Visando a conscientização dos sujeitos se torna possível promover finalidades expressas (ou que deveria estar expressas) nas políticas públicas das instituições escolares. Entendo que um sujeito somente será preparado para o exercício da cidadania e para a qualificação para o trabalho quando este for educado para os direitos humanos. São etapas que se complementam, são fatores indissociáveis já que um serve de base ao outro.
Dessa forma, é importante que as políticas públicas sejam pensadas e propostas primando pela conscientização do papel de cada um na realidade à qual está inserido, somente assim os direitos humanos e a cidadania farão com que o cidadão esteja preparado e qualificado para o trabalho.
Sendo assim, cabe a cada um dos sujeitos inseridos no contexto escolar, buscar pela valorização de todos que compõem a realidade educativa, visando assim a qualidade necessária para que os direitos humanos e a cidadania não se transformem em uma utopia.


Referência:

TAUCHEN, Gionara; GORCZEVSKI, Clóvis. Educar para os Direitos Humanos ou para a Cidadania?. In: Clovis Gorczevski. (Org.). Direitos Humanos, Educação e Cidadania. Porto Alegre: UFRGS, 2007, v. 1, p. 11-31.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A história das coisas, vale a pena assistir e refletir...

Analfabetismo: uma realidade que vai além dos números

Filme "O Leitor"


Muito se fala sobre novas formas de “combater” o analfabetismo, mas muito pouco têm resultado dessas tentativas de construir um espaço cada dia mais amplo e qualitativo na educação de jovens e adultos. O número de evasão dentro dessa modalidade de ensino têm sido assustador, e quando não, a educação é direcionada apenas para a qualificação, para o campo de trabalho, desconsiderando o lado social e humano no qual a educação deveria também se direcionar.
Pois bem, se estamos falando em desistência, em falta de qualidade no ensino, necessitamos refletir o que pode estar ocorrendo de errado e o que possivelmente poderia ser feito para melhorar essa situação.
No filme, entitulado “O Leitor” (vale a pena dar uma olhada) , podemos presenciar a história de Hanna, uma mulher analfabeta que, por vergonha de sua condição, fugia de todos os lugares em que se inseria, trabalho, romance, para que não fosse descoberta em sua “falha”. Ainda no fim do filme a mesma optou pela condenação judicial a revelar seu analfabetismo.
Iniciarei então, considerando o ser humano que está por trás da pessoa analfabeta, sim, pois devemos considerar pessoas, contextos, ao invés de apenas números, a refletir sobre o que ocorre nas pesquisas feitas sobre analfabetismo.
GOMES, falando sobre os dados apresentados sobre analfabetismo no Brasil expressa:
Esses sujeitos da exclusão são rostos esmaecidos e identificados por números em estatísticas sem que intensamente se questionem os contextos históricos e sociais promotores da desigualdade. Vidas contadas a partir daquilo que lhes falta e da imagem socialmente construída de que estes sujeitos da exclusão são pessoas “acomodadas”, “sem motivação”, “sem perspectiva de vida”. ( 2010,pág. 4)

Assim como Hanna, muitos desses analfabetos sentem-se envergonhados e inferiorizados frente ao resto da sociedade que domina o mundo da leitura e da escrita. São seres humanos nos quais não pensamos sua história, o porquê estão ali, como chegaram ali. Essas pessoas são pré-conceituadas apenas como pessoas pobres, na maioria das vezes negras, “ignorantes”, incapazes de gerir sua vida com autonomia, afinal, não sabem ler.
Esse estigma alcança a própria escola e inunda toda essa comunidade, inclusive professores. Os alunos que estudam na EJA sentem-se diferentes, e são tratados como tal dentro da escola, no geral ficam sempre com as piores salas, não possuem recursos, muitas vezes são tratados como burros, e também a eles é direcionado um trabalho pedagógico infantilizado.
Como ter vontade e conseguir aprender dentro desses contextos? Porque esse estigma tão ultrapassado e desrespeitoso? Os sujeitos que estão na EJA, ao contrário do que se é transmitido, são pessoas que merecem o total respeito, são trabalhadores, seres humanos que possuem muita experiência e muito conhecimento para compartilhar, são batalhadores, aqueles que lutam por uma vida mais justa e por direitos que lhes foram negados no tempo dito correto.
Se não conseguirmos considerar o caráter humano dessas pessoas, a evasão ocorrerá certamente. E é pensando nessa evasão que podemos começar a pensar um trabalho mais direcionado ao adulto, onde o professor não apenas conheça o contexto em que está inserido seu aluno, mas que considere essa realidade. É também através desse trabalho mais direcionado ao adulto que os alunos despertarão interesse pela escola, percebendo que ali é também um lugar deles, a assim sentindo-se parte desse espaço.
Existem também outros fatores que devem ser refletidos aqui como influenciadores na situação de pouca qualidade no ensino da EJA. Fatores esses como a subestimação do analfabeto. Quantas vezes já ouvimos alguém dizer, principalmente o próprio analfabeto, que não consegue mais aprender, pois já passou do tempo, já está velho?
Essa é uma realidade tão presente em nossa sociedade que já se transformou em um fator determinante na inserção dessas pessoas nos processos de alfabetização de jovens e adultos. A sociedade alfabetizada, por ter crescido em meio ao mundo letrado, acredita ter mais capacidade de aprendizagem que uma pessoa analfabeta, mas será isso um fato?
Para GOMES,
O discurso que sugere que pessoas analfabetas têm poucas condições de expor seus pensamentos, de reivindicar seus direitos, de se organizar é o que, justamente, acaba por produzir a idéia de que quem não sabe ler nem escrever, por suas poucas condições de pensar sobre a realidade, deixará sempre nas mãos daqueles que são alfabetizados a procuração para representá-lo socialmente. Afinal, um analfabeto, de acordo com esse discurso, não pode ser capaz de fazê-lo. (2010, pág. 5)

Quantas vezes já ouvimos histórias de pessoas analfabetas que aprenderam a ler as horas, a contar e até mesmo ler textos sem o auxilio da escola? Apesar de alfabetizados, não somos mais capazes, em alguns casos sabemos que o analfabeto tem maior poder de memorização que nós, pois nós temos o auxilio da escrita para registro, e o analfabeto se utiliza apenas da memória para não esquecer.
No filme o qual citei, temos um exemplo de aprendizagem autodidata. Hanna, através de livros e das fitas que seu amigo lhe manda consegue aprender a ler e escrever pequenas frases. Dessa forma, ainda é possível se duvidar da capacidade dessas pessoas?
Por fim, gostaria de salientar que quando falamos em educação para jovens e adultos, falamos no auxilio na formação de cidadão críticos, de sujeitos capazes de reconhecer e fazer valer seus direitos, e não apenas no ensino técnico da escrita.
O que esses sujeitos buscam não é apenas o status técnico da escrita, mas também a posição de cidadãos críticos dentro da sociedade, a certeza de estar fazendo parte do mundo letrado e assim, sentirem-se “iguais”.
Encerro esse texto trazendo uma pequena frase de GOMES, quando fala de uma conversa com Davi (analfabeto sujeito de sua pesquisa), ao mostrar sua carteira de identidade assinada por ele, esse trecho vem ao encontro do que apresento nesse texto, a busca pela identidade desses sujeitos: “Mais do que mostrar sua carteira, queria mostrar que “é alguém”. (pág. 14, 2010)

Bibliografia

GOMES, Vanise dos Santos. OLHARES SOBRE ALFABETIZAÇÃO. 2010. Texto retirado da internet disponível em www.uab.furg.br, último acesso em 21 de março de 2010.

Daldry, Stephen. Filme O Leitor, 2009.

Resenha "O que é Educação Ambiental" do Marcos Reigota


A quem interessa a temática, trago a resenha desse autor que um dos grandes pensadores ambientais, e que merece atenção especial.


REIGOTA, Marcos. O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL. 1994. Ed. Brasiliense, 63 p.


Reigota é doutor em Pedagogia da Biologia pela Universidade Católica de Louvain, cursou Licenciatura em Biologia na FFCL Farias Brito e fez mestrado em Filosofia da Educação na PUC – SP. Fez pós Doutorado na Universidade de Genebra sobre Educação Ambiental na América Latina.
É pesquisador e professor da Unicamp e USP; Professor-assistente do Departamento de Educação da Academia Internacional de Meio Ambiente de Genebra e Coordenador, no Brasil, da Campanha Internacional “a voz das crianças”.


Educação Ambiental – reflexões pertinentes

O livro de Marcos Reigota nos faz refletir sobre a Educação Ambiental que visa a formação de cidadãos críticos, conscientes e atuantes, na promoção de uma educação política. Dessa forma, busca-se um entendimento mais abrangente acerca das ações cotidianas, enfatizando a Educação Ambiental como uma ação global, onde o cidadão, ao ter conhecimento dessa realidade, produz um pensamento universal para assim atuar conscientemente como modificador do meio onde está inserido.
Para poder aprofundar um pouco mais a discussão sobre Educação Ambiental, o autor trás uma discussão acerca das diversas concepções sobre o termo meio ambiente, explicando que o mesmo está inserido em inúmeros e diversos discursos políticos, sociais, ecológicos e midiáticos. Para ele Educação Ambiental está relacionada às relações dinâmicas e que estão em constante interação entre aspectos sociais e naturais.
A Educação Ambiental está inserida em todos os aspectos que educam o cidadão, dessa forma, é possível percebê-la nos diversos espaços sociais, culturais, políticos e educacionais, dando, cada um, ênfase às suas especificidades. Por perceber a Educação Ambiental em uma perspectiva global, o autor salienta que a mesma não poderia ser considerada como disciplina dentro do processo educativo, mas sim, como uma perspectiva que permeie todas as disciplinas. Assim, a Educação Ambiental deve ser abordada nos diversos aspectos e espaços promovendo a percepção do educando como cidadão brasileiro e planetário.
Sua abordagem, apesar de ainda ser vista apenas como a transmissão de conhecimento cientifico e a conservação da natureza, precisa levar em conta aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais para que realmente possa ser percebida como Educação Ambiental e não ecologia e/ou ciências biológicas.
Dessa forma, o autor nos aponta seis objetivos definidos na Carta de Belgrado, que se tornam imprescindíveis para um trabalho de Educação Ambiental quais sejam: conscientização, conhecimento, comportamento, competência, capacidade de avaliação e participação. Esses objetivos têm como princípio o esclarecimento e a atuação consciente dos sujeitos frente ao problema ambiental, bem como, a busca um novo comportamento que visa adquirir o sentido dos valores sociais, sensibilizando-os pelo interesse ao meio ambiente.
Segundo Reigota, a Educação Ambiental não deve ser limitada a um conteúdo ou disciplina específicos, deve sim transitar entre as diversas áreas do conhecimento, sendo trabalhada independente da idade dos educandos e de acordo com o contexto, possibilitando a mediação e construção do conhecimento em conjunto entre alunos e professores.
A metodologia utilizada pelo(a) professor(a) é, na maioria da vezes, uma escolha individual que deve considerar os diversos espaços e contextos em que o grupo está inserido, buscando sempre instigar a criatividade dos alunos. Para o autor existem diversas abordagens metodológicas que podem e são utilizadas nas escolas, entre elas estão o método passivo, descritivo, analítico e ativo, o qual permite ao aluno questionar dados e idéias sobre um tema desenvolvendo progressivamente o seu conhecimento e comportamento em relação a este.
O autor também faz referência à outras duas metodologias que podem ser empregadas, quais sejam, Histórias de Vidas, que possibilitam desenvolver a criatividade, as representações, a compreensão de conceito cientifico e de problemas ambientais em discussão e a Pedagogia de Projeto que permite a participação de todos os sujeitos na elaboração, execução e avaliação do mesmo.
A avaliação é um componente muito subjetivo e, portanto, se torna um processo extremamente difícil para o professor. Dessa forma, é necessário que a avaliação se direcione não para as incapacidades dos alunos, mas sim para identificar o que precisa ou não explorar para a solução dos problemas ambientais. Sendo assim, torna-se mais pertinente propor aos alunos o processo de auto-avaliação.
Os recursos didáticos utilizados na Educação Ambiental, segundo Reigota, podem ser simples ou sofisticados, dependendo da criatividade do professor. Assim, os meios de comunicação, as artes plásticas ou a própria aula são recursos utilizados que visam mediar conhecimento científico e cotidiano na aprendizagem dos alunos.
A Educação Ambiental no Brasil apresentou-se em duas faces, a primeira como um modismo desenfreado e através do oportunismo, a segunda como uma opção pedagógica crítica aos modelos vigentes.
Em suma, o autor explica que a Educação Ambiental é uma das mais importantes exigências educacionais contemporâneas, explicando que não deve ser utilizada como a transmissão de conhecimento ambiental, mas buscando ampliar a participação política do cidadão. Assim sendo, ela tem como intuito a consolidação da democracia, a solução dos problemas ambientais e a melhora da qualidade de vida partindo da ética e do diálogo entre gerações e culturas.


Análise Crítica

Acreditamos que Reigota, no presente livro, buscou esclarecer a idéia de Educação Ambiental indo além da solução dos problemas ambientais, mas sim como uma nova perspectiva de perceber as relações sociais, políticas e culturais. Essas perspectivas dizem respeito a busca utópica pela concepção de uma nova relação social que busca a formação de cidadão crítico, ético e consciente de que é necessário pensar no global para agir no local.
A obra apresenta-se sistematizada de forma clara e objetiva, levando o leitor a refletir constantemente sobre suas ações em um diálogo direto e prazeroso. Entendemos que o público alvo do autor da obra são professores que buscam uma nova concepção de Educação Ambiental.
Dessa forma, acreditamos que o mérito da obra está presente na linguagem utilizada pelo autor que incita o leitor à constante reflexão, levando-o a pensar e perceber criticamente sobre suas ações e as relações contemporâneas que vivenciamos atualmente.
Em suma, concordamos com a reflexão feita sobre a Educação Ambiental por Marcos Reigota e acreditamos que realmente através da conscientização, da sensibilização e da busca pela mudança de comportamento, tão citados pelo autor, que poderemos dar um passo adiante frente ao problema ambiental e à busca utópica de novas relações sociais que nos proporcionem uma vida mais sustentável, ética e democrática.